domingo, 18 de março de 2012

Curiosidades da obra "A Lição de Anatomia do Dr. Tulp"

Rembrandt (1606-1669) foi um renomeado pintor holandês que, em 1632, com apenas 26 anos, pintou “A Lição de Anatomia do Dr. Tulp”, uma das suas mais importantes obras-primas e importante documento da história da anatomia. Veja abaixo alguns detalhes curiosos do quadro.

1. O erro anatômico
- A obra representa a anatomia funcional do grupo de músculos flexores do antebraço esquerdo. Contudo, apresenta um erro justamente nessa representação, já que mostra os músculos flexores superficiais do antebraço originando-se a partir do epicôndilo lateral do úmero, quando, na realidade, seria o epicôndilo medial. Evidências sugerem que o erro tenha sido proposital, já que essa dissecação lembra a dissecação do antebraço direito de Andreas Vesalius (publicada em seu livro de 1543) e o Dr. Tulp, muito religioso, teria defendido a idéia de que seria a reencarnação de Andreas Vesalius.

2. Identificação dos Participantes
- Dos nove participantes da dissecação retratados na obra, apenas dois se tem certeza de quem são: (I) Dr. Nicolaes Tulp (1593-1674): é o homem sentado, com a pinça a mão, que usa um largo chapéu preto de abas, símbolo do seu status social, olhando para um ponto indefinido. Era um nomeado anatomista municipal, cirurgião, erudito, professor e político, retratado na obra com 39 anos; 

(II) Aris Kindt: é o cadáver, deitado numa mesa de madeira, que havia sido enforcado por assalto à mão armada, mas que no quadro é o centro de todas as atenções, de onde irradia uma intensa luminosidade que se esvai para a periferia, numa progressão de meios-tons e penumbras, de modo a dramatizar toda cena ainda mais acentuada pela presença psicológica dominante do cirurgião.

- É interessante ressaltar também que o aluno mais próximo do Dr Tulp tem à mão uma folha de papel, no qual estudiosos concluíram ser uma lista numérica dos alunos presentes na aula do Dr. Tulp. Isso foi concluído por imediatamente acima do chapéu do Dr. Tulp ter uma pincelada grafando o número 1 e o primeiro nome da lista ser do mesmo. Foi a forma que Rembrandt encontrou para que a posterioridade pudesse identificar todos os participantes da obra.


3. Identificação do autor e data
- A data aparece na parede do fundo, por cima, à direita da cabeça da figura em posição mais elevada, ao lado da assinatura do pintor que pela primeira vez assina com o seu nome de batismo, "Rembrandt. ft:1632", ao invés das iniciais "RHL" (Rembrandt Harmenszoon of Leiden), sinal de uma superior autoconfiança e de uma nova tomada de consciência, ao conferir a si mesmo uma relevância marcante para a posteridade.



4. O livro no canto da obra

- No canto inferior direito, surge um livro de texto volumoso que pode muito bem ser, o muito em voga Atlas de Anatomia de Andreas Vesalius (1514-1564), A Fábrica do Corpo Humano [De Humani Corporis Fabrica] publicado em 1543, o primeiro grande livro da ciência médica moderna, segundo William Osler.


5.  Antebraço e mãos do cadáver
- Quem observar os antebraços direito e esquerdo perceberá nitidamente que o antebraço esquerdo é consideravelmente maior do que o direito. Para os estudiosos da pintura, o braço esquerdo pintado não é o braço de Aris Kint, mas de um outro cadáver previamente dissecado por Dr. Tulp.
- Além do braço esquerdo não ser de Aris Kint, estudiosos acreditam que os dedos da mão direita também não sejam. No século XVII, em algumas situações, havia na Holanda a prática jurídica de se amputar a mão ou os dedos do ladrão como prévia à pena capital. Assim sendo, Rembrandt teria pintado a mão direita com base na mão de outra pessoa (uma mão delicada e com unhas bem cortadas, diferentes a de um ladrão).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...